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26 de fev. de 2014

A HISTÓRIA DE UM GRANDE MESTRE DE KUNG FU WUSHU POR ALMIR LIMA.


Os filmes de artes marciais não seriam nada sem ele. Não estou falando de Bruce Lee, mas de Lau Kar-Leung

Também conhecido como Liu Chia-liang, Lau Kar-Leung dirigiu filmes clássicos da era de ouro do kung fu, como “Desafio de Mestres” (Challenge of the Masters, 1976) e “A Câmara 36 de Shaolin” (The 36th Chamber of Shaolin, 1977), tendo trabalhado com lendas do cinema de ação, do calibre de Gordon Liu (“Kill Bill”), Jackie Chan (“A Hora do Rush”), Jet Li (“Os Mercenários”) e Chow Yun Fat (“O Tigre e o Dragão”).

O Espadachim de um Braço, com David Chiang

Nascido em 28 de Julho de 1936, Lau era o terceiro filho de Lau Cham, um artista marcial e ator, descendente direto do mestre de kung fu Wong Fei-Hung. Tanto seu pai quanto sua mãe eram discípulas do grande mestre. E, além de treinar artes marciais com o pai, Lau também teve ensinamentos do professor Lam Sai-Wing, outro estudante destacado das artes marciais de Fei-Hung.

Lau começou sua carreira no cinema em 1950 como figurante e dublê em populares filmes de kung fu, no qual seu pai também costumava aparecer. Mas só foi se destacar quando se juntou ao estúdio Shaw Brothers na década de 1960, formando o Lau’s Stunt Team (Time de Dublês Lau) e, no processo, tornando-se um dos principais coreógrafos de ação de Hong Kong.

Desafio de Mestres, com Gordon Liu

Nesta época, ficou conhecido por sua colaboração com o diretor Chang Cheh, em filmes como “Espadachim de um Braço” (The One-Armed Swordsman, 1967) – onde também foi responsável pelo design da espada que o protagonista usa – e “O Assassino de Shantung” (The Boxer from Shantung, 1972). A parceria entre os dois durou até 1974, quando Lau deixou o set de “Marco Polo” após conflitos com Chang.

No ano seguinte, Lau dirigiu seu primeiro filme, “The Spiritual Boxer”, um marco do cinema asiático. Trata-se do primeiro filme de artes marciais a misturar elementos sobrenaturais na sua narrativa. Foi também pioneiro na combinação de comédia e ação, uma iniciativa que se tornaria um subgênero no kung fu, aperfeiçoada pelo diretor em diversas produções posteriores.


A Câmara 36 de Shaolin, com Gordon Liu

Mais que isto, porém, “The Spiritual Boxer” marcou a primeira vez que um coreógrafo de ação
transitou para a direção de um longa-metragem. E a experiência provou-se certeira: o filme foi um sucesso, fechando o ano como a sétima maior bilheteria de Hong Kong.

A parceria com o ator Gordon Liu, que era seu irmão adotivo, ajudou a consolidar sua carreira. Seus filmes juntos incluem os clássicos absolutos “Desafio de Mestres” (Challenge of the Masters, 1976), “Carrascos de Shaolin” (Executioners from Shaolin, 1977) e “A Câmara 36 de Shaolin” (1977).

O Carrasco de Shaolin, com Lo Lieh e Wong Yue

Considerado um dos filmes fundamentais do cinema de kung fu, “A Câmara 36 de Shaolin” contava uma versão bastante ficcional e aventureira da vida do grande mestre San-Te, monge shaolin que aperfeiçoou as artes marciais no século 18. O filme foi um grande marco na carreira do diretor, por priorizar um tema que acabou se tornando sua marca: o resgate de heróis que realmente existiram e o retrato da disciplina das artes marciais exatamente como era praticada. Ele tinha muito orgulho de ser descendente de grandes mestres e, por meio de seus filmes, procurou estabelecer a ideia de tradição continuada entre mestres e discípulos do kung fu.

Cultuadíssimo até hoje, “A Câmara 36 de Shaolin” virou trilogia, ao ganhar duas sequências de sucesso nos anos 1980, e até influenciou a cultura pop americana: o CD de estreia do grupo de hip-

hop Wu-Tang Clan foi batizado “Enter the Wu-Tang (36 Chambers)” em sua homenagem.
Heróis do Leste, com Gordon Liu
Sua dedicação à preservação das técnicas de artes marciais também se destaca na trama de “O Carrasco de Shaolin”, no qual usou os estilos de seu pai (o tigre) e de sua mãe (a cegonha), além de um figurino inspirado nos trajes de seus antepassados, para recriar o massacre do Templo Shaolin perpetrado pelo mestre do kung fu Pai Mei.

Seus filmes não tinham apenas kung fu. Um lançamento marcante também destacou as artes marciais japonesas. Em 1978, Lau dirigiu “Heróis do Oriente” (Heroes of the East) e, como forma de homenagem aos dois países, e em respeito as suas tradições, garantiu que ninguém morresse no final. Mas Gordon Liu venceu todas as lutas da trama, apontando que uma arte marcial era claramente superior à outra.

Minha Jovem Tia, com Kara Hui
Na trama, Gordon Liu interpreta um jovem chinês que se casa com uma japonesa a quem estava prometido desde a infância. Mas sua vida conjugal se torna uma eterna disputa entre as técnicas do kung fu e do ninjitsu, até o momento em que a esposa volta revoltada para o Japão, não aceitando ter perdido as disputas para o marido e ameaçando terminar o casamento. Como estratégia de reconciliação, ele a desafia para uma última batalha, em que pretende perder, mas o clã ninja ao qual ela pertence se sente ofendido e viaja até a China, desafiando o marido fanfarrão para uma série de lutas com campeões ninjas – que perdem todas, de forma hilária.

Ele fez muitas comédias kung fu, entre as quais se destaca a dupla “Minha Jovem Tia” (My Young Auntie, 1981) e “The Lady Is the Boss” (1983) mostrando que as mulheres – ou pelo menos Kara Hui – também eram capazes de chutar traseiros e salvar a reputação de sua escola de artes marciais.

O Mestre do Kung Fu, com Hsiao Ho

Kara Hui foi descoberta por Lau nas ruas. Tinha se tornado mendiga após a família perder tudo o que
possuía. Ele a lançou no filme “Desafio de Mestres” e o rumor era que os dois tinham um relacionamento amoroso. Por seu papel em “Minha Jovem Tia”, ela venceu o troféu de Melhor Atriz na primeira premiação da história do cinema de Hong Kong.

O cineasta tinha bom faro para descobrir talentos. Foi buscar Hsiao Ho na ópera chinesa, aprimorando seu dom de acrobata ao lhe ensinar o estilo do macaco, que o transformou num astro cômico do kung fu, em papeis de jovem rebelde nos filmes “Ho, o Sujo” (Dirty Ho, 1976), “Minha Jovem Tia”, a trilogia da “Câmara 36″ e principalmente “O Mestre do Kung Fu” (Mad Monkey Kung Fu, 1979), onde pôde demonstrar toda a técnica aprendida com Lau.

Lau Kar-Leung, um dos maiores diretores do cinema de ação de Hong Kong, faleceu no 25/6/2013, aos 76 anos, vítima de leucemia, doença contra a qual lutava há uma década.




 O Templo de Shaolin 3, com Jet Li

Lau também ajudou a lançar a carreira de um dos maiores mitos das artes marciais, o ator Jet Li, coreografando as lutas de sua estreia, “O Templo de Shaolin” (Shaolin Temple, 1981). Mais tarde, Li o convidou a dirigir o terceiro filme da franquia, “O Templo de Shaolin 3″ (Martial Arts of Shaolin, 1986).

Quando o gênero do kung fu começou a perder público, culminando na falência do estúdio dos irmãos Shaw, ele mostrou que também fazia filmes de ação contemporâneos de sucesso, como “Dois Tiras em Apuros” (Tiger on Beat, 1988), estrelado por Chow Yun Fat, outro ícone do cinema de Hong Kong.

Dois Tiras em Apuros, com Chow Yun Fat

Continuou seu trabalho como coreógrafo de ação e diretor até 1994, quando fez “O Mestre Invencível” (Drunken Master II), sequência de um dos maiores clássicos da carreira de Jackie Chan. O astro e o diretor quebraram o pau durante as filmagens, discutindo sobre a coreografia. O motivo era o perfeccionismo extremo da dupla – Chan costuma coreografar seus próprios filmes. Mas a vitória foi do cinema. O longa ganhou os prêmios de Melhor Coreografia de Ação nas premiações anuais de Taiwan e Hong Kong, além do troféu de Melhor Filme no Fantasia Film Festival, de Montreal, no Canadá. O diretor, entretanto, saiu extenuado das filmagens e foi diagnosticado com linfoma.

Após um longo tratamento, Lau venceu a doença e fez seu retorno a direção em 2003, com “Drunken Monkey: O Poder do Kung Fu” (Drunken Monkey), em que ele aparecia lutando na primeira cena do filme.

Ao lado de Jackie Chan, no set de O Mestre Invencível

Entretanto, a luta contra a doença se provou mais dura que ele esperava. Com a saúde debilitada, Lau
nunca mais dirigiu outro filme, mas aceitou coreografar uma última obra, o épico de ação “Sete Espadas” (Seven Swords, 2005) de Tsui Hark (“Protetores do Universo”). Pelo trabalho, ele ganhou o troféu de Melhor Coreografia de Ação da Academia de Cinema de Taiwan.

Em 2010, a Academia de Cinema de Hong Kong lhe prestou homenagem, concedendo-lhe um prêmio pela contribuição de sua carreira ao cinema de artes marciais. Assim como os personagens que retratou na tela, Lau Kar-Leung entrou para a história como um pioneiro e inovador de sua arte. Ele foi um dos grandes mestres, um verdadeiro mestre do kung fu.


 
 

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