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27 de out. de 2012

O que é JEET KUNE DO? Por Bruce Lee.



Artigo de Autoria do Bruce Lee sobre Jeet Kune Do, publicado em setembro de 1971, na revista marcial americana BLACK BEST MAGAZINE, e posteriormente publica no Brasil, já taduzida do inglês, na revista A Arte do Kung Fu, número 1, editada da Editora Escala e também da Revista O inesquecível Bruce Lee da mesma Editora.
Eu sou o primeiro a admitir que qualquer tentativa de cristalizar JEET KUNE DO em um artigo escrito, não é uma tarefa fácil. Talvez para evitar fazer uma coisa fora de um processo, até agora não tenha pessoalmente escrito um artigo sobre o Jeet Kune do.
Realmente, é difícil explicar o que seja o Jeet Kune Do, embora seja mais fácil explicar o que ele não seja. A respeito de observações sem escolha, suponha que várias pessoas são treinadas em estilos diferentes de artes combativas testemunhem uma irada e determinada briga de rua. Eu estou certo, de que ouviríamos versões diferentes de cada um desses estilistas. Isto é bem compreensível, PIS o individuo não pode ver uma briga (ou qualquer coisa) “como é”, contanto que ele esteja encoberto pelo ponto de vista dele, isto é, estilo.
Ele verá a luta através das lentes de seu condicionamento particular. Lutar, “como é”, é simples e total. Não é limitada a sua perspectiva ou condicionamento, como um artista marcial chinês, um artista marcial coreano ou um “qualquer” artista marcial. A verdadeira observação começa quando o individuo abandona padrões fixos e a verdadeira liberdade de expressão ocorre quando o individuo está alem dos sistemas.
Antes de examinarmos o Jeet Kune Do, vamos considerar exatamente o que um “clássico” estilo de arte marcial realmente é. “OS ESTILOS SÃO CRIADOS POR HOMENS. E UM ESTILO NUNCA DEVERIA SER CONSIDERADO VERDADE EVANGÉLICA. AS LEIS E OS PRINCIPIOS NUNCA PODEM SER VIOLADOS. O HOMEM, O VIVO E CRIADOR INDIVIDUO, É SEMPRE MAIS IMPORTANTE QUE QUALQUER ESTILO ESTABELECIDO.”
O que não é..
É concebível que algum tempo atrás, um certo artista marcial descobriu uma verdade parcial, embora esta seja uma tendência comum do homem, na busca por segurança e certeza na vida. Após sua morte, seus estudantes pegam “suas” hipóteses, “seus” postulados, “suas” inclinações e “seus” métodos e os transformam em leis. Credos impressionantes foram inventados; reforçadas cerimônias solenes foram ordenadas; rígidas filosofias e padrões foram formulados e até uma instituição foi erguida. Então, o que se originou como a intuição de algum individuo, como um tipo de fluidez pessoal, foi transformado em conhecimento solidificado e fixado, completado com respostas organizadas, classificadas e apresentadas em uma ordem lógica. Assim, os bem-entendidos seguidores leais têm, não somente feito um santuário sagrado a esse conhecimento, mas, também um túmulo onde eles enterraram a sabedoria do fundador.
Mas a distorção não necessariamente termina aqui. Em relação à “verdade do outro”, outro artista marcial, ou possivelmente um discípulo insatisfeito, organiza uma abordagem oposta, tal como o estilo “suave”, contra o estilo “duro”, a escola “interna” contra a escola “externa” e todos esses absurdos separativos. Logo, esta facção oposta também se torna uma grande organização, com  suas leis próprias e padrões. Uma rivalidade começa com cada estilo reivindicando possuir a “verdade” à exclusão de todos os outros.
Na melhor das hipóteses, estilos são meramente partes dissecadas de um todo. Todos os estilos requerem ajustamento, parcialidade, recusas, condenação e muitas auto-justificáveis. As soluções que eles pretendem fornecer são a única causa do problema, porque elas limitam e interferem em nosso crescimento natural e obstruem o caminho para a compreensão genuína. Divisor por natureza, estilos mantêm os homens separados um do outro, em vez de uni-los.
A verdade não pode ser estruturada ou confinada
O individuo não pode se expressar completamente quando aprisionado por um estilo confinado.
O combate “como é”, é total e inclui todos os “és”, bem como os “não é”, sem linhas preferidas ou ângulos. Sem limites, o combate sempre é fresco, vivo e está sempre mudando. Seu estilo particular, suas inclinações pessoais e sua constituição física são partes do combate, mas eles não constituem o todo do combate. Se suas respostas se tornam dependentes de qualquer parte única, você irá reagir em termos do que “deveria ser” do que a realidade do sempre mutante “o que é”.
Lembre-se que, enquanto o todo é evidenciado em todas as suas partes, uma parte isolada, eficiente ou não, não constitui o todo.
O treinamento de repetições prolongadas certamente sustentará a precisão mecânica e segurança do tipo que vem de qualquer rotina. Por mais que é exatamente esse tipo de “Seletiva”, segurança ou “muleta”, que eles não podem mais andar sem elas. Assim, qualquer técnica especial, porém inteligentemente desenvolvida, é realmente um obstáculo.
Permitam-me deixar entendido, de uma ver por todas, que EU NÃO INVENTEI UM ESTILO NOVO, COMBINAÇÃO OU MODIFICAÇÕES.
De modo nenhum coloquei JEET KUNE DO dentro de uma forma distinta, governada por leis que o distinguem deste estilo ou daquele método. Pelo contrario, espero livrar meus companheiros da escravidão dos estilos, padrões e doutrinas.
O que, então, é JEET KUNE DO? Literalmente, “Jeet” significa INTERCEPTAR ou PARAR, “Kune” é o PUNHO e “Do” é o caminho, realidade, final- O Caminho de Interceptação dos Punhos ou o Caminho do Punho Interceptor. Faça-se lembrar porem, que “Jeet Kune Do” é meramente um nome conveniente. Não estou interessado no termo em si. Me interesso por seu efeito de liberação, quando Jeet Kune Do é usado como espelho para um autoexame.
Diferente de uma “clássica” arte marcial, não há nenhuma série de regras ou classificação de técnicas que constituem um distinto método de combate “Jeet Kune Do”.
Jeet Kune Do não é uma forma especial de condicionamento com sua própria filosofia rígida. Ele observa o combate, não de um único ângulo, mas de todos os ângulos possíveis. Enquanto o Jeet Kune Do utiliza todos os caminhos e meios para servir ao seu fim (apesar de tudo, eficiência é o que importa), não está limitado por nada e portanto é livre. Em outras palavras, Jeet Kune Do possui tudo, mas ele em si não é possuído por nada e portanto é livre. Por isso, tentar defenir Jeet Kune Do em termos de um estilo distinto seja ele Gong Fu (Kung Fu), Karatê, combate de rua, a te marcial de Bruce Lee etc., é para perder completamente seu significado. Seus ensinamentos simplesmente, não podem ser confinados dentro de um sistema. Vejo que Jeet Kune Do não é imediato “isto” e nem “aquilo”, ele nem se opõe, não se adere a qualquer estilo. Para compreender isto completamente o individuo deve transcender a dualidade de “pró” e “contra”, em uma unidade orgânica, que é sem distinções. A compreensão do que é Jeet Kune Do é a direta intuição desta unidade.
Não existem padrões pré-arranjados ou “katas” no ensino de Jeet Kune Do. Nem são eles necessários.
Considere a sutil diferença entre ter uma forma e ter não forma. A primeira é ignorância; a segunda é transcendência.
Por meio da sensibilidade instintiva, cada um nós conhece nossas próprias maneiras mais eficientes e dinâmicas de conseguir alavancas eficazes, equilíbrio em movimento, uso econômico de energia etc.
Padrões, técnicas ou formas tocam somente a orla da compreensão genuína. O âmago da compreensão encontra-se na mente individual e até isto ser tocado, tudo é incerto e superficial.
Verdade não pode ser percebida até compreendermos a nós mesmo e aos nossos potenciais completamente. Apesar de tudo, conhecimento nas artes marciais, em última analise, significa autoconhecimento.
“Neste ponto, você deve se perguntar:” Como eu ganho este conhecimento?”Isso você terá de descobrir por si mesmo”. Você deve aceitar o fato de que não existe ajuda e sim autoajuda. Pela mesma razão, não posso dizer a você como “ganhar” autoconhecimento. Enquanto eu posso dizer a você o que não fazer, não posso dizer a você o que deveria fazer, porque eu estaria confinando você a uma abordagem particular.
Fórmulas podem inibir a liberdade, prescrições ditadas externamente somente silenciam a criatividade e garantem a mediocridade. Tenha em mente que a liberdade que provém do autoconhecimento não pode ser adquirida através da estrita aderência de uma fórmula. Não nos “tornamos” subitamente livres; nós somos livres.
Conhecimento, definitivamente, não é mera imitação, nem a capacidade de acumular e regurgitar experiências fixadas. Conhecimento é um processo constante de descoberta, um processo sem fim. Em Jeet Kune Do, nós não começamos por acumulação, mas por descobrir a causa da nossa ignorância, uma descoberta que envolve processos mutantes.
Infelizmente, a maioria dos estudantes, nas artes marciais, é conformista. Em vez de o conhecimento depender deles mesmos, para se expressar, eles cegamente seguem seus instrutores, não mais se sentindo sozinhos e encontrando a segurança na imitação em massa. O produto desta imitação é uma mente dependente. Investigação independente que é essencial para a compreensão genuína é sacrificada.
Olhe em torno das artes marciais e testemunhe o sortimento de artistas rotineiros, artistas “mágicos”, robôs sem sensibilidade, glorificadores do passado e então – todos seguidores ou expoentes do desespero organizado. Com que frequência é dito a nós, por diferentes senseis ou mestres, que as artes marciais são a vida em si?
Mas quanto deles verdadeiramente compreendem o que estão dizendo? A vida é um movimento constante – ritmo é casual. A vida é um a constante mudança e não uma estagnação.
Em vez de fluir, sem escolhas, com esse processo de mudança, muitos desses “mestres” construíram uma ilusão de formas fixas concordando rigidamente com os conceitos tradicionais e técnicas das artes, solidificando o sempre fluente, dissecando a totalidade. Na maioria das vezes, os meios que estes senseis oferecem aos seus estudantes são tão elaborados que o estudante deve dar tremenda atenção a eles, até gradualmente perder a visão do fim.
Os estudantes terminam desempenhando suas rotinas metódicas, como uma mera resposta condicionada, em vez de responder ao “o que é”. Eles não mais prestam atenção a as circunstâncias; eles recitam suas circunstâncias. Estas pobres almas inconscientemente tornaram-se presas no miasma do clássico treinamento das artes marciais. Um professor, um sentei, realmente bom, nunca é o doador da verdade. Ele é um guia, um indicador para a verdade que o estudante deve descobrir por si mesmo. Um bom professor, por isso, analisa cada estudante individualmente e o encoraja a explorar a si mesmo, interna e externamente, até, finalmente, ele estar integrado com sua existência, seu ser. Por exemplo, um hábil professor deve estimular o crescimento de seu estudante, confrontando-o com certas frustrações. Um bom professor é um catalisador. Além de possuir profunda compreensão, ele também deve ter uma mente receptiva, com grande flexibilidade e sensibilidade.
Não há nenhum padrão em combate total e a expressão deve ser livre. Esta verdade libertadora é uma realidade apenas tanto quanto ela é experimentada e vivida pelo individuo em si. É uma verdade que transcende estilos ou disciplinas. Lembre-se, também, que Jeet Kune Do é simplesmente um termo, um rótulo para ser usado como um bote para atravessar um rio. Uma vez atravessado, ele é descartado e não mais carregado nas costas.
Um dedo apontando para a lua
Estes poucos parágrafos são, na melhor das hipóteses, “um dedo apontando para a lua”. Por favor, não confunda um dedo com a lua ou fixe seu olhar intensamente a ponto de perder os espetáculos maravilhosos do céu.
“Além de tudo, a utilidade do dedo está na ação de apontar longe de si próprio a luz que ilumina o dedo e tudo o mais.”








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